
Meu coração batia tão forte durante os 85 minutos do filme que eu pensei que ele fosse explodir antes do final, juntamente com Ivan Locke, magistralmente interpretado por Tom Hardy. O curioso é que o mais enervante nessa história não é nada mais nada menos que os problemas por que passa um homem comum na hora de decidir qual a melhor maneira de agir diante de uma encruzilhada complicada. Não há grandes explosões, ataques alienígenas, super poderes, espíritos do mal, bandidos malvados ou nada do tipo. É somente aquele homem e a vida, e como ela parece nos enclausurar em alguns momentos.
Um homem sozinho com suas próprias escolhas encara o mundo do confinamento do seu carro sem outra opção (que ele mesmo escolheu) senão seguir em frente até seu destino, mesmo que ele seja terrivelmente incerto. A respeito, eu cheguei a me ressentir um pouco das tomadas amplas da autoestrada, que nos tiram da claustrofobia do interior do carro. Eu entendo essa alternativa como uma forma de tornar o filme suportável, diminuindo um pouco a tensão estarrecedora. Mas eu preferiria o extremo de permanecer com Locke na solidão claustrofóbica de não haver outra saída senão aquela que põe tudo a perder.
Os vislumbres do mundo externo vistos de dentro do carro, no entanto, são outra coisa: como ocorre com o motorista, algumas coisas chamam a nossa atenção, outras passam despercebidas. Essa é uma das sacadas mais inteligentes do filme, e ainda há muitas outras.
Há muito tempo, alguém me disse que nós podemos lidar com a nossa bagagem familiar de duas formas: uma é seguir o script de família; outra, é negá-lo persistentemente. No final das contas, ambos os modos são a mesma coisa, porque passamos a vida presos em algo do qual buscamos desesperadamente escapar. A luta de Locke por fazer o que considera correto é uma maneira de ir contra o padrão familiar, e assim sendo ele somente consegue se afunda mais profundamente no que quer justamente evitar.
Mesmo assim, eu concordo plenamente com a escolha dele. Não podemos ser nada mais do que verdadeiros a nós mesmos, é a única forma de ser e viver, eu acho. A ironia aqui é que, ao agir como acha mais correto, ele parece perder tudo na vida. Ele considera ter uma vida perfeita, mas o que suas decisões irão mostrar ao final é que se tratava na verdade de uma armadilha, e que as mudanças, apesar de assustadoras e incertas, são necessárias, permitindo que Locke encontre a si mesmo. Ou assim eu espero.
Eu tinha tanto medo por ele, meu coração quase explodiu. Tom Hardy está incrivelmente bom aqui, e não somos capazes de sair do seu lado por um minuto. Seu Ivan Locke é forte, determinado, tão seguro, tão frágil, machucado, sozinho... Ele consegue falar com os outros com segurança e calma, enquanto seu mundo quebra em mil pedaços. E, ao fazê-lo, ele está sempre só, mesmo que rodeado por pessoas que parecem se importar com ele. O que ele descobre, por fim, é que alguns deles não se importam tanto assim. Já vão tarde, eu diria a ele. Mas é dolorido, eu sei. E, ao final, o que permanece ao seu lado é o que importa realmente.
Com essa percepção, nosso coração finalmente pode voltar ao seu ritmo normal, podemos também deixar o carro de Locke calmamente, certos de que tudo correrá bem para ele, mesmo com a previsão de tempos mais difíceis por um tempo.
http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com/2015/07/day-116-locke-july-3.html
PS: Sempre há cineastas tentando contar uma história de forma mais peculiar a fim de captar os aspectos mais humanos de seus personagens e narrativas. Alguns são puramente estéticos, outros mais simples - ambos tentam, porém, se aproximar da vida. Locke traz essa característica narrativa peculiar. Outro filme que me lembra essa maneira de contar a história é Chuva (lluvia, 2001), filmado em sua maior parte dentro de um carro, como dois personagens que se conhecem em meio a um engarrafamento.
PPS: Nos comentários abaixo, Joe se refere a entrevistas presentes no imdb.com com Steven Knight e Tom Hardy sobre o processo de construção dessa história. Apresento o link para as entrevistas a seguir, ressaltando como Tom Hardy está totalmente diferente de Locke, sem algo que somente bons atores conseguem alcançar (ok, já sei, e uma boa maquiagem... mas não é o caso aqui).
http://www.imdb.com/video/imdb/vi3771116825?ref_=ttvi_vi_imdb_5
http://www.imdb.com/video/imdb/vi3787894041?ref_=ttvi_vi_imdb_3
http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com/2015/07/day-116-locke-july-3.html
PS: Sempre há cineastas tentando contar uma história de forma mais peculiar a fim de captar os aspectos mais humanos de seus personagens e narrativas. Alguns são puramente estéticos, outros mais simples - ambos tentam, porém, se aproximar da vida. Locke traz essa característica narrativa peculiar. Outro filme que me lembra essa maneira de contar a história é Chuva (lluvia, 2001), filmado em sua maior parte dentro de um carro, como dois personagens que se conhecem em meio a um engarrafamento.
PPS: Nos comentários abaixo, Joe se refere a entrevistas presentes no imdb.com com Steven Knight e Tom Hardy sobre o processo de construção dessa história. Apresento o link para as entrevistas a seguir, ressaltando como Tom Hardy está totalmente diferente de Locke, sem algo que somente bons atores conseguem alcançar (ok, já sei, e uma boa maquiagem... mas não é o caso aqui).
http://www.imdb.com/video/imdb/vi3771116825?ref_=ttvi_vi_imdb_5
http://www.imdb.com/video/imdb/vi3787894041?ref_=ttvi_vi_imdb_3
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