9 de set. de 2015

Dia 126: A História Real (13 de Julho)

A primeira cena em A História Real i(The Straight Story) me deixou sem ar, e eu somente o consegui recuperar algumas horas após o final do filme. 

Há tanta beleza aqui, presente nos incríveis detalhes dessa produção cuidadosa. tudo aqui é de singela excelência: fotografia, atuações, trilha sonora. Não há necessidade de palavras para compreender a jornada que se impõe Alvin Straight, uma que ele empreende no seu próprio ritmo e tempo, apesar do que todos aos seu redor sustentam ser o melhor. Mesmo o silêncio conta muito, e os poucos diálogos de Alvin com as pessoas que ele encontra enquanto cruza dois estados num cortador de grama trazem um mundo em poucas palavras. 

Há, aliás, vários contrastes nesse conto sobre um homem que viaja em seu cortador de grama para ver o irmão com quem não fala há anos. Planos abertos de vastos campos e detalhados closes nas pessoas. Grandes espaços e casas apertadas. Uma mágoa carregada por uma vida e a dor do dia-a-dia. Cada detalhe é encenado de forma a capturar nosso coração e atenção desde o início. A cada cena, eu estava mais e mais impressionada. 

Esse é um filme para a vida.  

Richard Farnsworth diz tanto com seu silencioso e perturbado Alvin. Sissy Spacek nós queremos abraçar apertado, sua Rose é tao querida que nos imediatamente nos importamos com ela. A participação surpresa (para mim) na última cena vai além de seus poucos minutos na tela. Esse filme é muito, não há uma forma de descrevê-lo e às pessoas que nele estão de maneira a fazer-lhes justiça. É maravilhoso como consegue ser uma narrativa. Se da mesma forma que eu você acabou por não chegar a esse filme, não adie mais. Um mundo belo, de conexões humanas, perda, reparação, dor, injustiça, amor o espera nessa produção de 1999 dirigida por David Lynch.

Um segundo antes de as primeiras cenas me capturarem definitivamente, eu me surpreendi por ver o símbolo da Disney associado a um filme de David Lynch. Algumas situações bizarras passaram pela minha cabeça, como um executivo da Disney apostando com Lynch que ele não seria capaz de contar uma hist´roia de forma tão delicada. Aposta aceita, todos nós saímos vencedores. Porque um cineasta com um voz tão forte e um olhar intenso para a vida é de fato um narrador adequado para a história de Alvin Straight, de forma a nos contar o que significa manter seu ritmo próprio num mundo que anda mais rápido enquanto ele se reconcilia com ele mesmo e com as pessoas que lhe são importantes.   


A História Real (The Straight Story). Dirigido por David Lynch. Com: Richard 
Farnsworth, Sissy Spacek, Jane Galloway Heitz. Roteiro: John Roach, Mary
Sweeney. França/Inglaterra/EUaA, 1999, 112 min., Dolby Digital, Color (DVD). 

PS: Nebraska, filme de 2013 dirigido por Alexander Payne, tem muito e A História Real. Os planos abertos, as paisagens vastas, o cuidadoso retrato das pessoas, uma trilha sonora bela que une imagens e historia. O tom de cada um é diferente, mas é difícil não associá-los diante da jornada pessoal de seus personagens principais. 



PPS: Richard Farnsworth havia passado por uma cirurgia no quadril um pouco antes das filmagens, e teve grande dificuldade em se mover nas filmagens, assim como seu personagem. Um tempo após o lançamento do filme, ele cometeu suicídio em seu rancho, aos oitenta anos de idade. No mesmo ano, ele havia sido indicado ao Oscar de melhor ator  por seu papel em A História Real. Uma conclusão de cortar o coração para um grande ator. 

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