13 de ago. de 2015

Day 117: Enquanto Somos Jovens (4 de julho)

Espanta-me um pouco como ainda há muitas história que preferem ressaltar as (estereotipadas) diferenças quando se referem a relações humanas. Talvez eu pudesse explicar de uma forma melhor: ao discutir a conexão entre as pessoas, é comum que se enfatizem as diferenças, o que as separa, e não o que as permitiu o seu encontro. Claro, nem todas as histórias são sobre conexão; algumas focam justamente o abismo. Mas penso que não era o caso aqui. 

Talvez, no final das contas, não haja uma melhor forma de falar a respeito. 

Enquanto Éramos Jovens (While We're Young) apresenta um casal por volta dos 40 anos que inicia uma estreita amizade com um casal de 25 anos.  Os homens são documentaristas, um mais experiente, o outro tentando produzir seu filme. Ele possuem várias coisas em comum. No entanto, o foco aqui não é sua conecção, mas as razões ocultas em cada um deles por detrás dessa amizade. 

Meus amigos não se encaixam em uma fórmula. Eles podem ser 25 anos mais novos ou 40 anos mais velhos que eu, isso realmente não importa. A pessoa é importante. Minha conecção com eles é importante. Claro, há diferenças em cada relacionamento pela idade, e, ao reconhecer esse fator, o resto é só amor. Eles são os melhores amigos que alguém poderia desejar, e isso é o suficiente. Então, se você me disser que a única razão para pessoas diferentes se aproximarem é por quererem algo, seu argumento não encontrará ressonância em mim.  

O filme apresenta dois motivos principais para os dois casais se tornarem amigos: um, como dito, é que eles sejam um caminho para alcançar um objetivo... relacionamentos como uma forma de lucrar, conseguir algo,  é bastante comum hoje (e acho que sempre). A outra razão é como é possível projetar as frustrações e desejos próprios em outrem. Outra forma bastante usual de relacionamento. Ambas acabam por cair no vazio e não se caracterizam como uma conecção humana ao final. São apenas uma forma de conseguir o que se quer. 

Não sou capaz de apontar qual o foco nesse filme. Como sabemos, a infame intenção de um autor não pode ser o centro de uma discussão sobre uma história. Trata-se de algo de difícil alcance, algo de que nem mesmo o autor pode ter consciência. E mesmo que o autor tivesse esse controle, sua intenção não seria o ponto aqui. O destaque aqui, a meu ver, é como as relações humanas caem no vazio aqui. Os personagens não são pessoas, mas apenas meios para defender um ponto de vista. Essa é uma armadilha bastante sedutora em uma história. Mas ainda assim é uma pena que um bom argumento tenha se perdido em meio  a tantas ideias confusas. Eu já disse antes: defender uma tese em uma história não é uma boa forma de construir uma narrativa. 

Josh e Cordelia não se encaixam mais em nenhum grupo. A maioria dos seus amigos têm crianças, eles não. Esse é um aspecto da sua inadequação, mas há muitos outros. E eles não se adequam aos seu novos jovens amigos por conta da idade - isso é o que o filme defende, e eu enfaticamente discordo. Esse argumento por si só não é suficiente para mim. Assim, o que se segue é ainda pior, de forma tal que eu sugeriria aos realizadores uma observação mais atenta das pessoas e da vida na próxima  vez. 

Desculpe-me se estou sendo excessivamente crítica, mas de fato me aborrece muito o desenvolvimento apressado de uma boa história. Trata-se aqui de cineastas e atores experientes  - eles não são perfeitos, mas deveriam saber como evitar tantos clichês (Joe me lembrou, antes de eu entrar no cinema, de ser gentil com esse filme, porque é um milagre levar uma história para as telas, mas eu acho que ainda não conseguir alcançar esse tipo de gentileza ainda). 

Um aspecto me conquistou, no entanto: as citações a respeito de teoria do cinema e documentários. Algumas delas são tão legais, eu não entendo como esse filme não conseguiu se libertar da parte estereotipada. O roteiro caminha na direção contrária do que a história parece querer contar. Um desperdício. É algo que acontece, no entanto, é um erro comum. Contar uma história sem cair na tentação de tantas armadilhas é de fato difícil, e apenas contadores de história mais capazes conseguem fazê-lo. Nós temos sorte de haver tantos deles ainda por aí. 

Um adendo: ontem, eu estava um pouco brava com esse filme... Acho que deu para perceber, certo: :) Hoje, eu lembrei de algo que também chamou minha atenção: em uma determinada cena, a ênfase em como os mais jovens buscam tecnologias analógicas com mais frequências - máquinas de escrever, fitas cassete, discos em vinil - ao mesmo tempo em que lidam facilmente com as tecnologias digitais, enquatno a minha geração parte de tecnologias mais antigas cada vez  mais na direção do que é digital. Essa cena é curiosa, certamente um tanto estereotipada também, mas um contraste interessante (pelo menos assim é até o final, quando surge um bebê lidando com um celular, e aí o clichê assume de fato a direção do filme). 

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com.br/2015/07/day-117-while-were-young-july-4.html



Enquanto Somos Jovens (While We're young)Dirigido e escrito por Noah
Baumbach. Com: Naomi Watts, Ben Stiller, Adam Driver, Amanda 
Seyfried. EUA, 2014, 97 min., Dolby Digital, Color (Cinema).




PS: Eu lembrei bastante de Distante nós Vamos no caminho para casa, depois do filme.   As duas produções trazem casais que não se adequam ao seu ambiente. No caso de Distante, o casal especificamente considera que não serão capazes de criar o filho sozinho, então eles procuram familiares e amigos numa tentativa de construir um bom ambiente para o filho ainda não nascido. É tão querido, tão cativante... nós conseguimos nos identificar com eles. Mas, importante repetir, eles são pessoas... Cordelia e Josh são apenas estereótipos... não há muito o que falar deles, então (Acho que estou brava ainda... ). 

PPS: Fragmento: Locke, novamente... eu ainda estava dentro daquele carro com Ivan. 

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