24 de jun. de 2015

Dia 17: A Quarta Aliança da Senhora Margarida (26 de março)

Até o momento, esta semana estava dominada por produções dinamarquesas e norueguesas. E o curioso é que, para dois países nos quais predomina a liberdade religiosa e onde uma pequena parte da população apenas é uma frequentadora constante da igreja, os três filmes nórdicos destes últimos dias trouxeram importantes questionamentos sobre religião, espiritualidade, fé no contexto da Igreja Evangélica Luterana, a predominante na Noruega e Dinamarca. 

A Quarta Aliança da Senhora Margarida (Prästänkan), dirigido por um dos mais importantes cineastas dos começo do cinema, Carl Theodor Dryer, é um filme mudo de 1920, e é impressionante. Claro, eu estava esperando um bom filme, mas seu humor ácido e excelente edição, principalmente ao se considerar a época em que produzido, me chamaram a atenção desde a primeira cena. A história é interessante, com excelentes atuações. 

O cenário é uma pequena vila na Noruega do século XVII. Para os espectadores atuais, o filme se configura como duplamente histórico, com duas diferentes épocas na tela - o século XVII retratado pelo início da década de 20 do século XX. Um testemunho da habilidade de Dreyer como cineasta é que seu filme não parece inadequado numa TV de tela plana numa manhã do século XXI. 

As diferentes cores dos enquadramentos (acrescidas manualmente na película) criam diferentes atmosfera, conforme desejado: manhã, noite, interior... é fantástico ver esse tipo de preocupação em produções do chamado primeiro cinema. A edição também me surpreendeu, com os diferentes pontos de vista de cada personagem. Todos esses aspectos envoltos por uma história bem contada que, como eu vi também nos filmes nórdicos atuais durante esta semana, ainda se mostra atual nos dias de hoje. 

Há, contudo, como é comum nos filmes do começo do cinema, alguns aspectos bastante teatrais, decorrentes principalmente da ausência de expressão falada na interpretação, mas não somente. Quando Hidur Carlberg, como Dame Margarete, aparece na tela pela primeira vez, pro exemplo, ela é apresentada por uma legenda, e a ação para para se concentrar em sua entrada. Foi lindo, de fato.  Um outro modo de considerar os atores, o seu lugar numa produção e a ficção em si. 

Houve um bónus inesperado na história: o debate apresentado a respeito do espaço ocupado pela mulher em sociedade, e como as seguidas gerações perpetuam hábitos e preconceitos que já deveriam estar superados há muito tempo. 

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com.br/2015/03/day-seventeen-march-26.html


A Quarta Aliança da Senhora Margarida (Prästänkan). 
Dirigido por Carl Theodor Dreyer. Com: Hidur Carlberg, 
Einar Röd (o cara acima com essa expressão maravilhosa)
Greta Almroth. Roteiro: Carl Theodor Dreyer a partir da história
 de Kristofer Janson. Suécia, 1920, 71 min., Mudo, P&B (DVD).



 

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