13 de jun. de 2015

Dia 3: Para Sempre Alice (12 de março)

Hoje, algo que aconteceu dentro do cinema há alguns anos veio à minha lembrança. Eu havia acabo de assistir a Uma Mente Brilhante (A Beautiful Mind2001) e não conseguia levantar da cadeira onde estava. Eu me entrontava na última fileira, num canto do cinema, e não era capaz de parar de chorar. A coisa foi tão feia que a equipe de limpeza, presenciando meu breakdown, deve ter cogitado chamar um hospício. Eles limparam a sala, foram embora, e eu ainda estava vá, chorando. Quando voltei para casa, enviei um email ao Professor John Nash, contando como sua história havia exercido um forte efeito em mim. Talvez ele tenha pensado a respeito do hospício para mim também. 


Ao final de Para Sempre Alcie (Still Alice), dirigido por Richard Glatzer, eu me sentia de forma muito parecida com o que ocorreu em 2001. Havia um imenso nó na minha garganta e no meu coração, Eu escondi meu rosto lacrimejoso no casaco, as lágrimas insistindo em cair, apesar do meu embaraço com as pessoas ao redor. Eu fui ao cinema ocm uma amiga, e apesar de ser uma das pessoas mais queridas para mim no mundo, e de nos conhecermos há quase 30 anos, eu estava com vergonha de chorar daquela forma ao seu lado. Então eu me controlei e parei de chorar. Mas durante toda a tarde eu me senti como que lamentando a perda de Alice, como se ela fosse uma amiga proxima e eu tivesse acabado de testemunhar sua batalha contra o Alzheimer. 

Essa proximidade com uma história e seus personagens não é novidade para mim. Sempre me senti assim com os filmes. Por um tempo, era comum que os amigos se espantassem com minhas reações e questionassem minhas reações emocionais diante do filme. Por que você está desse jeito? Isso é so um filme!!! Mas há tempos não escuto essa surpressa da parte deles, que devem ter se acostumado com a forma estranha e exagerada com que eu me relaciono com os filmes. 

A verdade, no final das contas, é que cinema para mim é vida. A ficção pode contar de aspectos da realidade de uma maneira tal que os fatos somente não são capazes. Hoje eu pensei  como eu me sensibilizo no cinema com histórias que apresentam a luta de uma pessoa diante da perda do controle de si mesmo e da sua racionalidade - como foi o caso com o citado Uma Mente Brilhante. 

Julianne Moore recebeu o Oscar de melhor atriz por seu papel em Para Sempre Allice. Assim, do que o filme trata é bastante conhecido, por isso eu me permito falar um pouco mais da história - não é um spoiler tão grande. Alice é uma renomada professora de linguística na Universidade Columbia em Nova York (a universidade dos meus sonhos, aliás) Ela conta com seu próprio conhecimento, com a sua capacidade intelectual, com a sua boa memória. E que assim seja não é surpreendente, já que sua área é ciência cognitiva. Dessa forma é até o dia em que ela se vê perdendo essa capacidade. O diagnóstico de Alzheimer é uma sentença de morte em tudo o que ela acredita e no que ela fundamentou sua vida. O filme transita entre como ela lida com a doença e as reações dos seus familiares mais próximos - marido e filhos. Apresenta aquilo que eles conseguem aceitar ou não. O que é aceitável para ela , Alice. Expõe o avanço da doença. Os diferentes aspectos do que significa lidar com uma patologia encontram-se ali retratados; em certo momento, Alice afirma que ela não é a doença, e persiste na tentativa de não perder a si mesma. 

Mas a perda é inevitável. Todo o seu conhecimento, suas habilidade, o imenso amor da sua família não conseguem deter o avanço da doença. Nesse quadro, nós testemunhamos como Alice vai perdendo a si mesma mais e mais, continuamente. 

Eu não acredito em controle absoluto sobre a vida e as coisas. Tampouco me assusto facilmente diante de adversidades e doenças. Claro, eu sofro com o imprevisível, com a imprevisibilidade das perdas. E obviamente que sofro quando estou doente. Mas eu tenho consciência que não somos totalmente capazes de controlar tudo ao nosso redor, ou nada na verdade, exceto a forma como escolhemos encarar essa falta de controle  da vida, nos momentos de adversidade, felicidade, imprevisibilidade etc. Mas testemunhar alguém que perde tal batalha é de cortar o coração para mim, ainda. E assim foi de tal maneira que eu passei a tarde, após o filme, com o coração de fato triste, enquanto seguia com minha vida, fazendo minhas compras de mercado. Um sentimento tão forte numa tarefa tão banal. 

Julianne Moore está incrível. Sua Alice se torna uma pessoa real por meio de sua interpretação. Kirsten Stewart poderia se beneficiar de uma direção melhor, seu tique nervoso de suspirar e encolher os ombros está presente ali - embora estivesse ausente em sua atuação em Acima das Nuvens (Clouds of Sils Maria, 2014 - e talvez por esse feito incrível ela tenha recebido um César... Não me leve a mal, eu gosto dela, mas esse tique é exagerado às vezes). Fiquei brava com o marido egoísta interpretado por Alec Baldwing, mais ainda quando me amiga contou que seu personagem no livro a apoia incondicionalmente. Por que o roteirista acha necessário mudar a personalidade das pessoas numa história ao adaptá-la para o cinema eu nunca vou entender. 

Toda essa tagarelice talvez tenha sido para tirara sua atenção da minha reação exagerada ao filme. Esses sentimentos estão comigo ainda, e provavelmente permanecerão assim por um bom tempo. Um efeito caudado não só por boas histórias, mas também por aquelas que contam de coisas que ainda escapam ao nosso entendimento. 

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com.br/2015/03/day-three-march-12.html


Para Sempre Alice (Still Alice)Dirigido por Richard Glatzer, 
Wash Westmoreland. Com: Juliane Moore, Kirsten Stewart, 
Alec Baldwin. Roteiro: Richard Glatzer a partir do livro 
de Lisa Genova.EUA/França, 2014, 101 min., 
Dolby Digital, color (Cinema).




PS: Fragmentos: Um pouco da minha tristeza desvaneceu quando me deparei com Alta Fidelidade (High Fidelity) na TV a cabo. Eu amo os livros de Nick Hornby, este em particular. E a trilha sonora é tão incrível, sempre bom reencontrá-la.  

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