3 de jul. de 2015

Dia 50: O Livro de Cabeceira (28 de abril)

É curioso, e até mesmo assustador, como algumas ideias se instalam na nossa lembranças por anos e anos sem nenhuma razão evidente. 

Não sei bem por que, mas eu sempre considerei Peter Greenaway um dos meus diretores favoritos. Eu tinhas um dos seus filmes na pilha de DVD's que quero ver. Mas, enquanto assistia a O Livro de Cabeceira (The Pillow Book), que havia comprado há anos, eu não fui capaz de lembrar como essa ideia tomou forma em mim. 

A princípio, essa foi uma viagem surreal aos anos 90. Eu me senti novamente em um dos cineclubes tão populares à época em Brasília, mas que infelizmente são existem mais por aqui. Eu podia até lembrar do ar parado da sala e sentir a cadeira sob mim, como podia também olhar os outros espectadores à minha volta. Foi estranho. Um sentido tão familiar para mim, no entanto eu o havia perdido sem nem perceber. 

O filme é de fato lindamente composto. O argumento é envolvente: como gerações e gerações podem se imprimir em nós. Como a dor e as obsessões de nossos antepassados e parentes diretos são marcadas em nossa pele e alma. Como as injustiças e preconceitos de outros podem se perpetuar em nossa própria história. Contos de perda, dor, violência, angústia, amor, esperança. Para retratar tal cenário,  Greenaway se mostra um mestre de imagens e narrativa intensa.  


Contudo, eu preciso dizer que Nagiko, a protagonista, é absurdamente muito irritante - nem mesmo o constante nu de Ewan McGregor em cena foi capaz de amenizar essa irritação. Não consegui uma identificação com Nagiko e sua dor e desejos. Não quero dizer, com isso, que ela deveria ser retratada como fraca ou doce ou nada disso. No entanto, ela é um aborrecimento constante, e para mim todas as questões acabaram por se perder diante desse aspecto. Uma pena, porque se trata de uma narrativa que usa linguagem e palavras para figurar o que se torna permanentemente inscrito em nossa própria história. 


Depois desse filme, pesquisei a filmografia de Greenaway sem conseguir encontrar uma de suas produções que explicasse minha admiração por ele. Mas a ideia que se manteve comigo por tanto tempo não existe mais. Talvez ela retorne depois de ver outro de seus filmes. Talvez, mas não é provável. 

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com/2015/04/day-fifty-april-28.html

O Livro de Cabeceira (The Pillow Book)Dirigido e escrito por Peter
Greeenaway, a partir do livro de Sei Shonagon. Com: Vivian Wu, Ewan 
McGregor, Yoshi Oida. Países Baixos/Inglaterra/França/Luxemburgo, 
1996, 126 min., Dolby/Dolby SR, Color/P&B (DVD).
 

PS: Este post traz mais imagens que o usual, mas eu não consegui escolher apenas uma, porque todas são tão lindas e relevantes para a história - e há muitas outras mais. 

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