8 de jul. de 2015

Dia 65: A Menina que Brincava com Fogo (13 de maio)

Há três coisas que me recuso a ver no cinema: violência, sexual, tortura e peixes. Essa é uma regra de vida e morte  para mim. No entanto, por vezes surgem exceções, como tudo na vida. 

A trilogia Millenium, baseada nos livros do autor sueco Stieg Larsson, é uma desas exceções, e uma bastante boa. A primeira parte da série no cinema é impressionante, tanto na versão sueca quanto na norte-americana. Eu imagino que os livros possuam inúmeros outros aspectos não adaptados para o cinema, mas depois de ambas as versões, eu não encontrei um razão para lê-los, apesar de já haver comprado a trilogia completa.  

Eu havia assistido apenas so primeiro filme, então neste dia eu decidi seguir com a segunda parte. A Menina que Brincava com Fogo (Girl Who Played With Fire), na versão sueca. A norte-americana está prevista para 2016, e eu mal posso esperar por ela - David Fincher na direção + Roney Mara + Daniel Craig = uma adaptação excelente (a produção ficou um pouco confusa depois que o roteiro vazou na internet na invasão à Sony no ano passado). 

As versões suecas são  incríveis também. O tema central da trilogia é a violência sexual como  um crime doente, hediondo, imperdoável e injustificável, que pode se perpetrar por gerações e gerações. Essa segunda parte adiciona a questão do tráfico e escravidão sexual ao aspectos mais familiares presentes no primeiro filme. Não há lugar para falar de um tabu social como a violência e sexualidade como o cinema. É um meio precioso de discussão, quando as histórias são bem escritas e filmadas, como é o caso aqui. 

Abuso sexual no ambiente familiar e escravidão sexual são crimes que tem aumentado em número ano após ano. De acordo com a organização Do Something, 80% do tráfico humano tem o caráter de exploração sexual, com uma estimativa de 20 a 30 milhões de escravos no mundo. É isto: 10 milhões estão em lugar algum, não são vistos nem reconhecidos pelas estatísticas. Onde estão essas pessoas? Ao nosso redor, e nós não as vemos. Os livros de Larsson discutem esse crime horrendo de uma forma bastante precisa, por meio de uma boa história de ação e suspense (no final, eu havia dado cabo de todas as minhas unhas...). Livro e filmes conseguem esse intento sem erotizar a violência sexual, um risco enorme em várias narrativas sobre a questão. 

Lisbeth Salander é uma excelente personagem, e seu envolvimento na solução de crimes sexuais não é por acidente: sua própria história a leva a se dedicar fortemente à erradicação daqueles que perpetuam tal crime hediondo: os homens que odeiam as mulheres. Ela é uma heroína incrível, perturbada, forte, linda. Eu a admiro tanto na interpretação de Mara quando na de Noomi Rapace, na versão sueca. 

Noomi Rapace

Rooney Mara


Logo, a última parte da trilogia Millenium deverá aparecer por aqui, A Rainha do Castelo de Ar (The Girl Who kicked the Hornest Nest). Esta é Lisbeth, chutando violentamente tudo ao seu redor sem perdão, nunca se conformando com um script de vítima, lutando bravamente contra toda a violência ao seu redor com tudo que ela possui. 

A Menina que Brincava com Fogo (Flickan Som Lecte Med Elden). Dirigido 
por Daniel Alfredson. Com: Noomi Rapace, Michael Niqvist, Lena Endre.
Roteiro: Jonas Frykberg a partir dos livro de Stieg Larsson. Suécia/

Dinamarca/Alemanha,  2009, 129 min., Dolby Digital, Color (Netflix).

PS: Eu li que o segundo filme na versão americana dessa série será um pouco diferente do livro. A razão advém de um aspecto que eu adorei na produção sueca, e que  considerei uma das maiores forças da narrativa. Não vou dizer do que se trata aqui, porém. Mas essa trilogia vale o seu tempo, posso assegurar  :)

PPS: A sequência de abertura da versão americana de Millenium: Os Homens que não Amavam as Mulheres (The Girl With The Dragon Tatoo) é uma das melhores que eu já vi no cinema, competindo apenas com Bauhaus e sua Bela Lugosi is Dead  na primeira cena de Fome de Viver (The Hunger1983) e a nota de suicídio de Virginia Wolff na voz de Nicole Kidman no início de As Horas (The Hours - eu chorava tanto nessa primeira cena que pensei que não seria capaz de assistir ao resto do filme). Lembro que entrei no cinema e imediatamente me paralisei diante da cena à minha frente, com Immigrant Song, de Led Zeppelin' (na performance de Karen O e Trent Reznor) explodindo  nos auto falantes à minha volta. Tão lindo que eu permaneci na sala ao final do filme para vê-la novamente. 



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